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Jun 09

A ficção tornou-se realidade e ao Homem parece nada ser impossível. Os únicos limites apontados à ciência são os que ela própria encerra, decorrentes de conhecimentos ainda não plenamente desenvolvidos e capacidades ainda não totalmente dominadas. Mas estes limites são sempre provisórios e ultrapassáveis.

O Homem continua assim com e pela ciência, gozando das inovações que quase diariamente ela lhe proporciona, acreditando no seu potencial benéfico, investindo no seu fomento, aceitando-a como o indiscutível e dogmático factor do seu próprio desenvolvimento.

A vontade de ir sempre além e conquistar sempre mais tem vindo, desde tempos imemoriais, a contamina-lo e por isso o uso de algumas descobertas científicas, vieram demonstrar que a ciência nem sempre se faz a favor, mas algumas vezes contra o Homem.

 

Conta uma lenda que um homem, gananciosamente, matou o seu ganso que punha ovos de ouro, pensando que podia extrair todos os ovos do seu interior. Tais actos disparatados têm sido cometidos actualmente. Ao explorar desmesuradamente a Natureza retirando dela as matérias-primas e o seu sustento, o Homem cria desequilíbrios desastrosos colocando em perigo não só o que o rodeia mas a si mesmo. Não podemos culpar a ciência e a técnica por isso! Os culpados são aqueles que aplicam as descobertas científicas sem discernimento.

Quando o homem interfere indevidamente na Natureza, ela reage desfavoravelmente e os problemas surgem. Isto não acontece apenas por retirarmos dela aquilo (ou mais do que aquilo) que precisamos para viver, o simples facto de caminharmos sobre o planeta está a provocar, ainda que lentamente, a sua morte. Vejamos o exemplo: o automóvel foi uma invenção magnífica! Permite, hoje em dia, que a deslocação entre dois pontos distantes se torne rápida e confortável! Como o automóvel também é o comboio, o metro, o avião e o navio. No entanto todas estas geringonças contribuem para o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, o que sabemos ser extremamente nocivo ao ambiente. Temos a capacidade de criar e portanto temos de assumir responsabilidades por tudo aquilo que nos rodeia de modo a não causar a sua destruição! É importante deixar a ambição, a cobiça e a avidez de lado e reflectir um pouco sobre que limites colocar aos nossos actos.

 

Sempre em busca de grandes feitos e notoriedade, nós, seres egoístas, acabamos por transformar a ciência (que deveria ser utilizada para o bem maior, para o aperfeiçoamento da condição humana e para o aumento da nossa qualidade de vida) numa arma de aniquilação. Além de desafiarmos o planeta, além de ousarmos interferir na biodiversidade chegamos ao ponto de utilizar a ciência para matar.

Einstein acreditava que pela fissão ou fusão de núcleos atómicos se poderia libertar uma energia gigantesca mas nunca imaginou que viesse a acontecer uma Segunda Guerra Mundial onde essa energia fosse utilizada para fins de destruição maciça. Passou a encarar o seu trabalho com energia nuclear como um dos maiores erros da sua vida embora saibamos ser genial, a sua utilização sim foi imperdoável. A energia nuclear é utilizada hoje como meio de evitar o gasto de combustíveis fósseis reduzindo o impacte ambiental sendo portanto benéfica, mas nunca se esquecerão as mais de 200 mil pessoas mortas pela bomba atómica…

Posto isto, uma questão se levanta. Terá o Homem a capacidade de arcar com tamanha responsabilidade? Será seguro tamanho poder nas nossas mãos? Será o Homem capaz de distinguir o “bem” do “mal” utilizando a sua inteligência sem colocar o outro em risco? Diríamos que não… porque apesar da evolução ser facilmente observável, apesar de tudo se encontrar numa constante mudança, o espírito humano permanece o mesmo…

 

Considerando-se o ser supremo, o Homem tem vindo a ameaçar todo o equilíbrio que o rodeia, todas as leis biológicas, e prepara-se agora para se colocar no lugar de Deus e criar o sobre-humano remexendo aquilo que caracteriza cada um de nós – o património genético!

Um dos problemas mais controversos da actualidade é a manipulação genética. Partindo da manipulação de características até à clonagem de plantas, animais e quem sabe humanos estamos a assumir um controlo impensável sobre toda e qualquer célula! Será aceitável a criação artificial de seres vivos?

 

Os avanços científicos no campo da saúde têm, como já vimos, vindo a melhorar consideravelmente a longevidade do ser humano. Quem sabe não encontraremos dentro de pouco tempo a cura para o cancro ou a SIDA? No entanto, quem nos garante que os avanços neste campo ainda um pouco desconhecido da genética não nos levarão ao fim? Não sabemos se o consumo de alimentos transgénicos nos causarão a longo prazo mutações na nossa própria constituição, não sabemos se ao manipular características de plantações estaremos a intervir na biodiversidade e nos sistemas de forma irreversível podendo levar à morte de espécies animais e vegetais, não sabemos! Já existem alimentos transgénicos no mercado e a maioria da população não sabe sequer o que eles são! Mais controverso que este, é o tema da clonagem. A possibilidade de um dia ser possível clonar seres humanos assusta-nos… E mais do que a cópia de uma identidade ou a substituição de um ser até então único surge-nos na mente a hipótese da criação industrial de seres humanos com o objectivo de desempenhar funções bélicas ou até mesmo da criação de um super-humano, um ser com características físicas e intelectuais minuciosamente escolhidas pelo seu criador.

 

Um outro grave problema é a realização de testes laboratoriais em animais a fim de criar ou melhorar técnicas e produtos. O uso de animais como cobaias ocorre desde muito cedo. Estima-se que a utilização de animais em actividades científicas e didácticas exista desde o século V a.C., tendo iniciado provavelmente com os estudos de Hipócrates. Nos séculos XVII e XVIII os cientistas passaram a usá-los com maior frequência na busca de solucionar problemas de saúde humana. Certo é que cada vida é uma vida independentemente da complexidade do ser que a suporta e por isso uma grande questão ética surge: será viável a utilização de animais em testes laboratoriais com o fim de melhorar o conhecimento e a condição humanos?

Como foi publicado pela Unesco em 1978: “Cada animal tem direito ao respeito; e o Homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir a si próprio o direito de exterminar os outros animais, ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros” (Artigo 2º); Não menos importante é o artigo 8º: “A experimentação animal, que implica sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra.”

 

É por isso importante dizer que é necessário impor limites à ciência! É urgente impor limites ao Homem! É fundamental preservar a nossa identidade face ao perigo eminente da nossa artificialização.

Na antiguidade a curiosidade humana era castigada e quem sabe não seremos castigados também pela nossa ousadia extrema? Prometeu, roubou o segredo do fogo aos deuses para dar aos homens e acabou amarrado a uma rocha com uma águia que todos os dias lhe comia parte do fígado, Ícaro não se contentou em voar baixo e as suas asas acabaram por derreter, Pandora abriu a caixa e espalhou os males pela terra, na Bíblia por se alimentarem da árvore do conhecimento Adão e Eva foram expulsos do paraíso. Quando avançamos em território desconhecido é portanto importante caminhar cuidadosamente avaliando com responsabilidade e bom senso as consequências.

 

 

postado por LACCAP às 17:28

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